...............................Σὰ βγεῖς στὸν πηγαιμὸ γιὰ τὴν Ἰθάκη,
/
νὰ εὔχεσαι νά ᾽ναι μακρὺς ὁ δρόμος

..........................Quando saíres a caminho da ida para Ítaca,
/ faz votos para que seja longo o caminho

....................................................Konstandinos Kavafis, «Ítaca»

terça-feira, 31 de maio de 2011

Algumas notas sobre Ítaca

Feitos três números, são já alguns os autores que por Ítaca passaram, muitas vozes e algumas muito díspares entre si. No tempo em que apenas imaginávamos fazer uma revista literária, ainda miúdos de liceu, havia uma coisa que queríamos que essa revista, se alguma vez existisse, conservasse e que imaginamos que talvez se pareça com este ranger de madeira debaixo dos pés que às vezes podemos escutar quando chegamos ao extremo de um longo cais (imaginem por exemplo os cais de Palermo que – sei porque vi num filme – são impressionantemente longos) e já só temos diante de nós o mar.
Para nós, Ítaca é uma ideia presa a esse som, esta coisa que nos sucede quando estamos no ponto mais recuado de um cais estreito e quem olhasse para nós indistintamente não saberia dizer se acabáramos de chegar ou se estávamos de partida. Nós próprios não saberíamos dizer se se trata de uma partida ou de um regresso. Mas estamos no cais, que não é ainda a incerteza do mar aberto, mas também não é já o conforto de casa. De certa forma, um texto publicado é isto, porque parte dele já não nos pertence – demos pois o primeiro passo e este é irreversível, mas uma parte dele será sempre nosso, talvez apenas uma parte ínfima e aquela que é menos evidente –, mas também não sabemos, não poderíamos dizer, o que poderá ele mover, como será lido.
Quando pensámos no nome Ítaca pensámos numa coisa sem mistério, uma ilha esquecida no meio do mar, nem particularmente próspera nem particularmente pobre, casa de um rei ardiloso e persistente, nem sempre muito amado ou bem visto pelos seus compatriotas, que a ela voltou anos depois de ter partido porque deixara a família à espera. Isto é afinal, a definição de uma coisa que faz sentido, que tem um significado intrínseco apenas como imagem. Pensámos que uma ilha é também um espaço livre de ruído, um lugar de relativo abrigo. Isso é de certa forma o que queremos que Ítaca seja.
O que faz sentido porque, como é comum notar-se entre os jovens escritores da nossa geração, para nós, os locais onde publicar os nossos livros não abundam. Ítaca nesse sentido é também uma espécie de jam session, o que talvez não ofendesse Ulisses, que certamente gostaria de jazz se o tivesse conhecido.
Mas mais do que criar um espaço que pudesse dar uma resposta a essa necessidade, creio que primordialmente existia a vontade de fazer uma coisa, pela alegria de lhe dar vida, de a moldar em todas as suas possibilidades. Este processo demorado, exigente, que é criar um objecto criativo e criá-lo a muitas mãos, em várias fases cujo desfecho nunca podemos prever com exactidão, porque Ítaca é um objecto amador.
Tal como na Ítaca de Kavafis, aquilo que o viajante aprende é que uma vez tendo partido, não há propriamente como regressar. Nada está já no modo em que fora deixado, o lugar a que voltamos já não é o mesmo, também nós fomos mudados, por isso sabemos o que significa avistar Ítaca. Isto talvez fale do que seja a nossa ideia de evolução a cada número.
Eis os conteúdos da Ítaca 3.

[somewhere blues] (poesia) Amadeu Baptista; J. P. Moreira; José Salema; Luís Quintais; Margarida Ferra; Pedro Braga Falcão; Ricardo Gil Soeiro; Sara F. Costa; Simão Valente; Tatiana Faia; Tiago Patrício

[arquitectura e memória: eurico, o presbítero](ensaio) Helena Carvalhão Buescu

[depois há uma porta] (prosa breve) Amândio Reis; André Simões; Filipe Gouveia de Freitas; José Bértolo; Paulo Rodrigues Ferreira; Samuel Filipe

[a arte do desenho ou a criação do mundo] (ensaio) Pierre De Roo

[zbigniew herbert: o presente que cega] (ensaio/ tradução) Ana María Sánchez Tarrío, «O Presente Que Cega»; Zbigniew Herbert, Alguns Poemas Traduzidos/Izabela Stapor, J. P. Moreira, Tatiana Faia

Pelo grupo editorial da Ítaca,

Tatiana Faia

domingo, 29 de maio de 2011

those were the days

De quando éramos jovens e alegres (ano passado) na saudosa Trama. As fotografias foram tiradas pela Luana, antes de o juiz a ter proibido de se aproximar menos de 50m de uma máquina fotográfica.